Temperamental, gênio explosivo que o levava a ser expulso de campo com frequência e o ajudava a conquistar inimigos, às vezes até dentro de próprio grupo de trabalho, Heleno de Freitas é um dos grandes ídolos do Botafogo por seu talento e obsessão pela perfeição. Formado em advocacia, sua fama de boêmio e de bom vivant não o impediu de ser, em 11 anos de carreira, um jogador de primeira grandeza do futebol brasileiro e reconhecido com um dos maiores craques sul-americanos.
Apesar de suas virtudes, ele se tornava intratável quando algo dava errado em campo. Considerado o primeiro craque problema do futebol brasileiro, Heleno perdia o controle principalmente quando o chamavam de Gilda, personagem temperamental de Rita Hayworth, em filme de sucesso dos meados da década de 40. Apesar disso, foi o símbolo de um Botafogo guerreiro, que nunca se dava por vencido. Chegou ao time principal em 1937, com a responsabilidade de substituir o ídolo Carvalho Leite e não decepcionou. Mesmo sem nunca ter sido campeão pelo Glorioso, marcou sua passagem com 204 gols em 233 jogos, tornando-se o quarto maior artilheiro do clube. Em 1948, foi vendido ao Boca Juniors, da Argentina.
Heleno, nascido dia 12 de dezembro de 1920, em São Nepomuceno (MG), jogou também no Vasco (campeão estadual em 49), no Atlético de Barranquilha (Colômbia), no Santos, e encerrou sua carreira, já doente, no América. Pela seleção brasileira, disputou 18 partidas, tendo marcado 15 gols. Internado em um sanatório em Barbacena, em 1953, morreu dia 8 de novembro de 1959.
"Heleno de Freitas viveu em conflito com o universo do futebol, amado como um deus, censurado como o demônio: era o fantasma dos árbitros, o gênio da bola aos olhos dos catedráticos do futebol, o desafeto das torcidas e o galã irresistível das mocinhas de Copacabana, que lhe namoravam a elegância, a rebeldia, o anel de doutor em Direito e a fama".
(Armando Nogueira)